quinta-feira, 6 de setembro de 2012

só conseguia olhar até a pracinha, quando o verde acabava, e o muro concretizado surgia, eu ligeiramente virava meus olhos, ligeiro, para que ninguém no ônibus percebesse, como se eles se importassem. 
mas para eu importava, importava disfarçadamente não olhar para a construção, como se não houvesse nenhum vínculo entre aquele lugar e eu. e meu passado.
não precisava olhar para saber que toda a estrutura havia mudado, muros ficando maiores, com cerca elétricas em cima, cores mortas de tintas baratas pintaram as novas grades, eu conseguia até imaginar os cadeados que as lacravam, transformando o mundo aqui fora uma realidade paralela, algo perigoso e proibido, como uma maça vermelha, e la dentro, nada, exceto pessoas, pequenas, crianças, estranhamente denominados alunos da escola estadual Julio de mesquita Pai! - por Deus, existia o filho também- aos meus olhos, prisioneiros. reclusos. vitimas de sua própria sociedade, sentenciados a uma vida melh

or. . . lá não se aprende a ser feliz, e amar é proibido também, e também é proibido correr, pois o certo lá é aprender sentado, estático. parado. só te resta revoltar-se perante seus parceiros, extravasar todas as regras enfiadas em suas cabeças, -através de processos mecânicos, nova tecnologia- secretamente, eu torço para o dia em que eles juntem suas revoltas e se virem contra seus dominantes, mas apenas secretamente eu torço, pois alguém aqui pode ouvir.
e é assim que eu vejo, aquele monumento doente, mas forte. é assim que eu,- fugitiva daquele lugar, desertora primária, mais uma revoltada- quando passo de ônibus, voltando para minha casa, na minha cidade amada, viro discretamente o rosto. não com vergonha, mas sim com medo, medo da força que aquilo está alcançando.





raissa leal

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