sexta-feira, 6 de julho de 2012


é sexta-feira, e o role de hoje é ficar 2horas dentro de um carro com seus pais, gritando -Leonaaaaa,  num bairro que as famosas más linguas nunca disseram bem.
se for preciso eu passo o resto das minhas ferias fazendo isso.
não é que seja entendiante -Le-ooooonaaaaa, ou frio, ou até mesmo cansativo, é algo mais parecido com desesperador.
é desesperador nao ver mais os cartazes que havia colado ontem de manha. -o que sua intuiçao diz, Raissa?
Nada. como disse, desesperador.
meia hora depois e 10 ruas visitadas.
eu chamo o nome dela e fico esperando o miado. repriso o som na minha cabeça, tentando reconhecer, escutar algo semelhante. nem um pio
é estranho, não é algo que se acostuma facil, voce concordaria comigo; depois de dois anos, só chamando uma vez, ou duas, caso ela estivesse no telhado
-Leonaaaa psiuuuu, Re gritando para o nada- é muito, muito estranho, estar num bairro... estranho, chamando por ela, sem resposta, de vez em quando eu tenho que me lembrar o porque estamos fazendo aquilo. 
lembrar geralmente tráz lagrimas. -Leonaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa Leonaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!
-assim vão achar que somos loucos, resmunga meu velho no volante.
-azar o deles, retruca minha mãe, Leonaaaaaa
eu olho pra minha constelação preferida, pedindo pra que ela apareça: desejo negado até o momento.
eu só queria que ela soubesse que nós estamos atras dela, que é pra ela ficar la, de orelha em pé, que nos estamos -Le-ooooonaaaaa- gritando o nominho dela.
a gente passou por alguns gatos, minha mãe até perguntou para um deles se ele tinha visto uma preta por ai, mas ele não quis papo, ela não entendeu o porque
a gente passava por eles e eu não me assustava, sabia desde sempre que não era ela, não é frieza não reagir a uma possibilidade, eu só não gosto de me iludir mesmo.
to lembrando dela descendo as escadas, eu nunca vou conseguir ditar o barulho que ela faz, era unico, esta gravado na minha cabeça, nada parecido naquele bairro com cheio de fumaça de -Leonaaaaaaaa psssssss Leonaaaa- pneu queimado
-eu não to gostando da sua tosse, mocinha, reclama minha mãe. nao respondo, nao grito mais, nao chamo, nao pergunto, nao rio.
nao rio faz um tempinho, nao é por respeito, é falta de clima mesmo. até quando passamos pela quinta vez em frente a missa e a minha espetacular mae, que conversa com gatos, que grita em diferentes tons Leonaaaaaa LeonaaaaLeonaaaaaaaaaaaaaa, pede carinhosamente para o padre fazer um milagre e fazer a gata safada aparecer:
-o seu padre faz um milagre pra ela aparecer. eu teria rido, mas faltou climax.
entao meu pai ficou de saco cheio e começou a brigar comigo, eu gritei, marcia pediu paz, demos mais umas voltas e fomos embora sem dizer adeus.
sem dizer mais nada ate eles entrarem no assunto seguro do carro. eu nao fiquei chateada, eu fiquei puta, mas por dentro. silencio, um otimo amigo.
comecei a achar que a cada dia nos desaprendemos sobre o que é realmente importante, estou começando a achar que quem mais acredita na vida, mais é cobrado por ela, só por acreditar que ela pode ser bonita. 
e voce, que esta lendo, nao é so um animal domestico peludo. é sobre o ser que pula/pulava da cama todo dia as 6h pra ir miar na orelha do meu pai
dizendo que ja esta na hora dele acordar, e que ela nao ve a hora de ganhar um pedaço de margarina com torrada. é sobre o bixo que voltava pra cama logo depois
e so acordava quando eu acordava, com fome, claro, e que me seguia ate no banheiro, que me via lavar a louça com cara de tedio, e que so saia pra baderna depois que eu saia
e que de noite, ficava no pe do velho ate ele cansar do sofa e ir para a cama, e de la ia para minha cama roubar calor e espaço, era o meu sonifero, e a minha maior compainha.
era nossa, fazia parte da gente. eu nao sei o que é isso, pode ser uma carta, so nao é uma carta de despedida, por favor que não seja. é ruim ver que a vida segue sem ela, que a vida
nao ta esperando ela voltar, é ruim saber que eu tenho que seguir em frente com a vida.
volta pra casa, por favor. a vida nao é justa ai fora, me disseram. mas pode ser mais quente, aqui dentro. Leonaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

Nenhum comentário:

Postar um comentário