domingo, 1 de julho de 2012


meu pai, quando eu era criança -não me lembro a idade- quando foi pintar a janela do banheiro deixou alguns repingos no vidro
e nunca fez questão de limpar. não sei se demorei para percebe-los, mas depois de ve-los nunca mais tomei banho sem olhar para
a feiticeira voando na vassoura com seu manto poido no canto superior esquerdo, e no cavaleiro que luta contra a fera, em baixo a direita, 
ambos minusculas imagens de respingos no vidro do banheiro. Havia outras manchas, mas a elas nunca dei importancia ou tentei atribuir-lhes formas e significados.
uma bruxa e um cavaleiro ja bastavam para a minha imaginação. Sim, os anos passaram e eles continuam ali, intactos na sua ação. E creio que apenas eu os percebi, 
papai e mamãe nao sabem que quando tomam banho são vigiados pela feiticeira e salvos pelo cavaleiro.
E hoje, quando eu venho de tão longe para tomar banho no meu antigo e querido banheiro. Hoje, longe daquilo que chamam lar, e perto daquilo que chamam 
vida adulta, eu venho, entro no box, e antes de ligar o chuveiro, ao fechar a janela, eu ainda os vejo la, o cavaleiro não se cansa da luta, e a feiticeira segue voando, as vezes tranquila, as vezes cheia de maldade.
e eu sigo minha vida, feliz por ainda fazer parte, por ainda ser parte daqui. Em casa. E quanto aos outros respingos? até hoje não parecem com nada, nem lembram ninguém.. até pensei em limpa-los, mas desisti, vai que um dia eles se descubram na sua própria historia, arte abstrata, ouvi dizer que anda na moda...


raissa leal

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